Tuesday, March 20, 2007

Um dia na vida de João Lopes (crítico de cinema) - parte I - Pela manhã

- Querida, não vais acreditar o sonho que tive hoje. Começava contigo na cama a dormir serenamente, mas à medida que o plano alargava percebi que não estavas sozinha. Ao teu lado, igualmente a dormir, estava o vizinho de cima. Sabes quem é? Aquele a quem tu pediste uma ou duas vezes para arranjar o esquentador quando eu cá não estava quando afinal era só a torneira do gás que estava fechada. Ficaste tão corada quando eu cheguei a casa e percebeste que o tinhas incomodado para nada! Bem, voltando ao sonho, quando me apercebi da presença do vizinho vi logo que se tratava de um sonho surrealista reminiscente de Buñuel. Essa impressão acentuou-se quando tu, ao acordares, te envolveste com ele numa posição que apenas posso descrever como cubista, tal a sua força e capacidade de desconstrução do corpo humano nas suas formas geométricas essenciais. Nessa altura, e num volte-face hitchokiano, aparece, por cima das corpos entrelaçados, uma faca que desfere vários golpes deixando-os inertes, sob os lençois ensaguentados. A cena revela uma estética de violência próxima do universo das novelas gráficas de Frank Miller e de Natural Born Killers. Em pano de fundo um jogo de sombras onde os movimentos teatrais se sobrepõem....

- Tã bem João. Contas-me o resto depois que eu estou atrasada. Levanta a mesa antes de saíres e não te esqueças de deixar dinheiro para pagar à empregada, ok?

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